Pular para o conteúdo principal

Trechos da orelha de Paisagem da insônia e do posfácio de Muralha: O goleiro imbatível

Victor Mascarenhas


"A cada conto, a cada página e a cada parágrafo, a solidão maníaca dos personagens se exibe quase que pornograficamente e se esfrega na cara do leitor, sempre numa prosa caudalosa, que não poupa os adjetivos, os exageros e uma misantropia domesticada e usada a serviço do texto. Os zumbis insones de Emmanuel Mirdad vagueiam pra cá e pra lá em um círculo vicioso que envolve desde a mais banal dor de cotovelo ao mais sofrido fracasso. Dormir? Melhor não, a paisagem da insônia tem caminhos tortuosos, armadilhas a serem superadas e, para fugir dali, picadas precisam ser abertas entre os excessos de um autor sem filtros."


O escritor e roteirista Victor Mascarenhas, autor dos livros de contos “A insuportável família feliz” e “Cafeína”, escreveu a orelha de “Paisagem da insônia”, terceiro e último livro de contos de Emmanuel Mirdad, que tá na fila para ser lançado, aguardando a revisão e a finalização.

_________________________


Elieser Cesar


"Em sua estreia no romance, gênero que exige fôlego, Emmanuel Mirdad exibe o gás de um jogador que corre o campo todo, atacando e voltando para marcar, e o condicionamento de um escritor que não dá bicudas no estilo, não tropeça no texto e não faz firulas retóricas. E ainda mais: consegue escapar ileso das armadilhas da ficção de chuteiras, a maior delas ceder à tentação do fácil, repetitivo e batido jargão da crônica esportiva, repleto de lugares-comuns, como a transmissão de um jogo pela TV. Um a zero!"


"O Mudinho do começo da história é uma muralha no gol e uma rocha, impenetrável, na vida, pois, calado, fechado em copas, introspectivo e infenso a quaisquer emoções, sobretudo aquelas à flor da pele exibidas fartamente numa partida de futebol. Muralha: O goleiro imbatível é também um romance de formação; os anos de preparação de um jogador que se torna imbatível em campo e indomável fora dele."


"No romance do 'técnico' Mirdad entram em campo jogadores cabeças-de-bagre e medianos, candidatos a craque, torcedores fanáticos, cartolas inescrupulosos e uma sequência de lances tramados nos bastidores, intrigas, inveja, sabotagem, tentativa de arranjar resultados, negociatas, muito daquilo que há de heroico e edificante, mas também de sórdido, inescrupuloso e ilegítimo que o futebol comporta, sem faltar o cronista esportivo venal e sempre disposto a escalar o time em lugar do técnico e de quem mais entende de bola."


O escritor e jornalista Elieser Cesar, autor de “A garota do outdoor” e “O azar do goleiro”, entre outros, escreveu o posfácio de “Muralha: O goleiro imbatível”, o primeiro romance de Emmanuel Mirdad, que tá na fila para ser lançado, aguardando a revisão e a finalização.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Oito passagens de Conceição Evaristo no livro de contos Olhos d'água

Conceição Evaristo (Foto: Mariana Evaristo) "Tentando se equilibrar sobre a dor e o susto, Salinda contemplou-se no espelho. Sabia que ali encontraria a sua igual, bastava o gesto contemplativo de si mesma. E no lugar da sua face, viu a da outra. Do outro lado, como se verdade fosse, o nítido rosto da amiga surgiu para afirmar a força de um amor entre duas iguais. Mulheres, ambas se pareciam. Altas, negras e com dezenas de dreads a lhes enfeitar a cabeça. Ambas aves fêmeas, ousadas mergulhadoras na própria profundeza. E a cada vez que uma mergulhava na outra, o suave encontro de suas fendas-mulheres engravidava as duas de prazer. E o que parecia pouco, muito se tornava. O que finito era, se eternizava. E um leve e fugaz beijo na face, sombra rasurada de uma asa amarela de borboleta, se tornava uma certeza, uma presença incrustada nos poros da pele e da memória." "Tantos foram os amores na vida de Luamanda, que sempre um chamava mais um. Aconteceu também a paixão

Dez passagens de Clarice Lispector nas cartas dos anos 1950 (parte 1)

Clarice Lispector (foto daqui ) “O outono aqui está muito bonito e o frio já está chegando. Parei uns tempos de trabalhar no livro [‘A maçã no escuro’] mas um dia desses recomeçarei. Tenho a impressão penosa de que me repito em cada livro com a obstinação de quem bate na mesma porta que não quer se abrir. Aliás minha impressão é mais geral ainda: tenho a impressão de que falo muito e que digo sempre as mesmas coisas, com o que eu devo chatear muito os ouvintes que por gentileza e carinho aguentam...” “Alô Fernando [Sabino], estou escrevendo pra você mas também não tenho nada o que dizer. Acho que é assim que pouco a pouco os velhos honestos terminam por não dizer nada. Mas o engraçado é que não tendo absolutamente nada o que dizer, dá uma vontade enorme de dizer. O quê? (...) E assim é que, por não ter absolutamente nada o que dizer, até livro já escrevi, e você também. Até que a dignidade do silêncio venha, o que é frase muito bonitinha e me emociona civicamente.”  “(...) O dinheiro s

Dez passagens de Jorge Amado no romance Mar morto

Jorge Amado “(...) Os homens da beira do cais só têm uma estrada na sua vida: a estrada do mar. Por ela entram, que seu destino é esse. O mar é dono de todos eles. Do mar vem toda a alegria e toda a tristeza porque o mar é mistério que nem os marinheiros mais velhos entendem, que nem entendem aqueles antigos mestres de saveiro que não viajam mais, e, apenas, remendam velas e contam histórias. Quem já decifrou o mistério do mar? Do mar vem a música, vem o amor e vem a morte. E não é sobre o mar que a lua é mais bela? O mar é instável. Como ele é a vida dos homens dos saveiros. Qual deles já teve um fim de vida igual ao dos homens da terra que acarinham netos e reúnem as famílias nos almoços e jantares? Nenhum deles anda com esse passo firme dos homens da terra. Cada qual tem alguma coisa no fundo do mar: um filho, um irmão, um braço, um saveiro que virou, uma vela que o vento da tempestade despedaçou. Mas também qual deles não sabe cantar essas canções de amor nas noites do cais? Qual d